FUNDAÇÃO COOPERATIVA

SOLIDÁRIA - GENsTE


“GESTÃO DE ESTUDOS E EMPODERAMENTOS 'NOVAS TRAQUINAGENS DE EROS'”

Mitos

A-Universos e Ciclos Míticos

 

"A dialética interior ao devaneio dialogado reequilibra continuamente [a] (...)
humanidade e, por uma espécie de pilotagem automática, conduz continuamente
o conhecimento à problemática da condição humana. "(Durand, 1988: 71).
 

"(...) em todas as sociedades existem, subjacentes, mitos que orientam e modulam,
dirigem o curso da história, da sociedade e da cultura, servindo de estruturas dinâmicas
orientadoras às atividades humanas significativas. Portanto, se considerarmos os
fundamentos míticos do pensamento, bem como os esquemas simbólicos coletivos
que se encontram implícitos nas várias criações do homem, veremos que, efetivamente,
o pensamento humano move-se de acordo com estruturas míticas do imaginário."
                                                                                                                               (Dib, 2002:: 41)  
 
 
"O sonho programou a práxis social, fato que ignoram os ingênuos
para quem a economia é só economia e o sonho só sonho. (...).
A sociedade é muito mais manipulada por seus mitos do que os pode manipular.
O imaginário está no âmago ativo e organizacional da realidade social e política."
(Castoriadis e Morin apud Paula Carvalho, 1990: 39)
 
 
.O Universo e Ciclo Mítico do Desejo
 

 

O UNIVERSO IMAGINÁRIO DA (IN)COMPLETUDE / (NÃO)PLENITUDE DO SER HUMANO -  O CICLO MÍTICO DO DESEJO[1]

[vide imagem abaixo - Saiba mais]


[1]-Marco Antônio Dib

B-IDEÁRIO E IMAGINÁRIO

 

IDEÁRIO E IMAGINÁRIO DO MUNDO OCIDENTAL CLÁSSICO

 

1-QUADRO GERAL DE IDEIAS-FORÇA, TRAÇOS MÍTICOS E MITOLOGEMAS DE NARRATIVAS PROGRESSISTAS E OU À ESQUERDA

IDEIAS-

FORÇA

TOTALI-

DADE

PARTE

DA

TOTALI-

DADE

EXCLUSÃO /

INCLUSÂO

CONTES-

TAÇÃO

DA ORDEM

VIGENTE

TRANSFOR-

MAÇÃO DA

ORDEM

VIGENTE

INSTRU-

MENTO

(ARMA)

DESENVOL-

VIMENTO

RESGATE

TRAÇOS

MÍTICOS

  • a totalidade primordial

  • a transgressão da ordem

  • a totalidade primordial perdida

  • a totalidade primordial perdida a ser resgatada

(a nostalgia de uma condição primordial perdida a ser recuperada, regenerada)

  • a transgressão da ordem

  • o combate (a arma e a luta)

  • o aperfeiçoamento contínuo

  • a nostalgia de uma condição primordial perdida a ser resgatada

(a totalidade primordial perdida a ser recuperada, regenerada)

MITOLO-GEMAS

MITOLOGEMA DA DEGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA REGENERAÇÃO

2-QUADRO GERAL DE IDEIAS-FORÇA, TRAÇOS MÍTICOS E MITOLOGEMAS DE NARRATIVAS CONSERVADORAS E OU À DIREITA

IDEIAS-

FORÇA

T

O

T

A

L

I

D

A

D

E

PARTE

DA

TOTALIDADE

EXCLUSÃO

X

INCLUSÃO

INTERVEN-  ÇÃO DA TOTALIDA-DE / AÇÃO

DAS PARTES

CONTINUI-

DADE DA

ORDEM

VIGENTE

C

O

N

S

E

N

S

O

DESENVOL-

VIMENTO

R

E

S

G

A

T

E

TRAÇOS

MÍTICOS

  • a totalidade primordial

  • a transgressão da ordem

  • a totalidade primordial perdida

  • a totalidade primordial perdida a ser resgatada (a nostalgia de uma condição primordial perdida a ser recuperada, regenerada)

  • a previdência e a providência divinas / -a união

  • a obediência à ordem

  • a conciliação

  • o aperfeiçoamento contínuo

  • a totalidade primordial perdida a ser resgatada (a nostalgia de uma condição primordial perdida a ser recuperada, regenerada)

MITOLO-GEMAS

MITOLOGEMA DA DEGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA REGENERAÇÃO

. Vinculações com o Mito de Prometeu

3-TRAÇOS MÍTICOS ENCONTRADOS E PRINCIPAIS MITEMAS DO MITO DE PROMETEU PROGRESSISTA E OU À ESQUERDA

TRAÇOS MÍTICOS

MITO DE PROMETEU - PRINCIPAIS MITEMAS

  • a transgressão da ordem

  • o combate (a arma e a luta)

  • o aperfeiçoamento contínuo

  • a nostalgia de uma condição primordial perdida a ser resgatada (a totalidade primordial perdida a ser recuperada, regenerada)

  • mitema da transgressão da ordem divina

  • mitema da previdência / providência (prudência) divina ou mitema da defesa da condição humana

  • mitema da elevação indefinida da condição humana

4-TRAÇOS MÍTICOS ENCONTRADOS E  PRINCIPAIS MITEMAS DO MITO DE PROMETEU CONSERVADOR E OU À DIREITA

TRAÇOS MÍTICOS

MITO DE PROMETEU - PRINCIPAIS MITEMAS

  • a obediência à ordem

  • a previdência e a providência divinas / a união

  • a conciliação

  • o aperfeiçoamento contínuo

  • a totalidade primordial perdida a ser resgatada (a nostalgia de uma condição primordial perdida a ser recuperada, regenerada)

  • mitema da transgressão da ordem divina

  • mitema da previdência / providência (prudência) divina ou mitema da defesa da condição humana

  • mitema da elevação indefinida da condição humana

. Vinculações com o mito do Andrógino de Platão e o Mito de Adão e Eva

5-TRAÇOS MÍTICOS E PRINCIPAIS ÍNDICES MITÊMICOS, MITEMAS E ESTRUTURAS MÍTICAS DO MITO DO ANDRÓGINO, DO MITO DA IDADE DO OURO E DO MITO DO PARAÍSO

TRAÇOS MÍTICOS

MITO DO ANDRÓGINO - PRINCIPAIS ÍNDICES MITÊMICOS, MITEMAS E ESTRUTURAS MÍTICAS

  • a totalidade primordial
  • a transgressão da ordem

  • a totalidade primordial perdida
  • a totalidade primordial perdida a ser resgatada
  • (a nostalgia de uma condição primordial perdida a ser recuperada, regenerada)

ÍNDICES MITÊMICOS E MITEMAS

  • a perfeição primordial
  • mitema da transgressão da ordem divina
  • mitema do castigo

  • a nostalgia de um estado primordial incondicionado

ESTRUTURAS MÍTICAS

  • o prestígio das origens
  • o alvo escatológico

MITO DA IDADE DO OURO E MITO DO PARAÍSO – PRINCIPAIS MITEMAS

  • mitema da paz
  • mitema da abundância
  • mitema da justiça

Fonte: DIB, Marco Antônio. As propostas de planos nacionais de educação: um ensaio mitocrítico. São Paulo, Feusp, 2002. (Dissertação de Mestrado*) – Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-15122004-125428/pt-br.php

*Linha de Pesquisa: Cultura, Organização e Educação
Banca Examinadora: Orientador: Maria do Rosário Silveira Porto
Examinadores: Maria Cecília Sanches Teixeira, Altair Macedo Lahud Loureiro
 

“.Unitermos: razão prática, crise do paradigma cultural e científico clássicos, reparadigmatização da cultura e do pensamento científico, razão simbólica, razão cultural, Planos Nacionais de Educação, imaginário, mito, mitocrítica, Mito de Prometeu, Mito do Andrógino.

. Resumo**: Esta pesquisa filia-se à perspectiva hermenêutica-antropológica simbólica que busca a recondução da razão aos seus limites através da reparadigmatização da cultura e do pensamento científico, diante da constatação da unidimensionalidade da razão prática e da crise do paradigma cultural e científico clássicos, problemáticas também pertinentes à Educação. Centrando-se na concepção de cultura como o universo das mediações simbólicas buscamos a revalorização do imaginário e a recuperação da razão cultural. Tendo por referencial a proposta mi/e/todológica de G. Durand, em especial a mitocrítica, e contribuições de outros autores, realizamos, neste ensaio exploratório, uma leitura em profundidade, pois mítica e arquetipal, das últimas duas propostas de PNEs (final de 1997/início de 1998). Procuramos, constatar e-ou demonstrar a possibilidade de desvelamento do imaginário nelas "contido", trazendo-o à tona, considerando, principalmente tratar-se de textos-discursos altamente racionalizados e de caráter político-ideologico que, aparentemente, nada teriam a ver com mitos. Buscamos, assim, contribuir para o debate e subsidiar as reflexões sobre os rumos dados à educação nacional no início desses novos tempos, não no sentido de estabelecer ou propor taxionomia de ações, uma normatização, um código do dever ser, mas sim de apropriarmo-nos perlaborativamente daquilo que se encontra no nível mais profundo da (in)consciência humana. A partir da leitura diacrônica e sincrônica, na perspectiva da mitocrítica, detectamos nos PNEs certos traços míticos que compõem o mitologema da Queda (Declínio) seguida da Ascensão (Progresso), e que nos permitiram identificar como mitos diretores das propostas de PNEs - a da sociedade civil e a do MEC -, respectivamente: no nível patente, o Mito de Prometeu, de Goethe (heróico, dualista, polêmico, ilustrado) e Spitteler (racionalista, cientificista, progressista, nas não revolucionário e contestatório); no nível latente, o Mito do Andrógino, de Platão (em sua face prometeica) e o da tradição judaico-cristã (em sua face menos contestatória e ativa). Percebemos também que, mesmo com as imensas repercussões teóricas das perspectivas críticas que afirmam o esgotamento (Lyotard) ou o inacabamento (Habermas) do projeto existencial iluminista, é possível, ainda, observar nos discursos institucionalizados da sociedade organizada e, em particular, nos discursos oficiais do poder público e do Estado, em torno da educação, a forte persistência das racionalizações totalizantes, que se nutrem basicamente do furor gestionário e da compulsão de formar. Mas, para além das ideologias, os mitos não só não desaparecem, como parecem continuar a modular o curso da história, da sociedade, da cultura, enfim, também da Educação, orientando os rumos da educação nacional e os projetos de futuro para o Brasil. A busca, o sentido...? Mergulhar para alçar vôos.

Fonte**: Disponível em http://servicos.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=200274033002010001P6; acessado em 25/05/2009)

ABSTRACT

The proposed national plans for Education: A test mythcriticism

This research Filia to the hermeneutic perspective, anthropological, symbolic, which seeks to extend the right to their limits by reparadigmatization culture and scientific thought, before the finding of unidimensional of practical reason and the crisis of traditional cultural and scientific paradigm, also issues relevant to education. Focusing on the concept of culture as the universe of symbolic mediations seek a revaluation of the imaginary and the recovery of cultural reasons. Since the proposal by reference mythodology of Gilbert Durand, particularly mythcriticism, and contributions from other authors, we, in this exploratory trial, a reading in depth, as mythical and archetypal, the last two proposed PNEs (end of the 1997/beginning of the 1998). We see or show-and the opportunity to unveil the imagery in them "contained", bringing it to light, considering it is mainly narratives highly streamlined and of a political-ideological, which apparently had nothing to do with myths. From the diachronic and synchronic reading, in view of mythcriticism, found in the draft PNEs certain traits that make up the mythical mythologeme the Fall (decline) followed by the Ascension (Progress), and we have identified as myths directors of proposed PNEs - the civil society and the MEC, respectively, at the patent, the myth of Prometheus, of Goethe (heroic, dualistic, controversial, illustrated) and Spitteler (rationalist, scientistic, progressive, not revolutionary and in contesting) at latent the myth of the androgyne of Plato (in his face promised) and the Judeo-Christian tradition (in your face contester characteristic and least active). As we see, beyond ideologies, the myths not only disappear, as seems to modulate the course of history, society, culture, finally, also Education, guiding the direction national education and projects for the future of Brazil.

Word keywords

[en]

imaginary

[en]

culture

[en]

mythcriticism, symbolic and cultural grounds

[en]

paradigmatic crisis

[en]

reparadigmatization

 

Fonte: Disponível em http://www.nuteses.temp.ufu.br/tde_busca/processaPesquisa.php?pesqExecutada=2&id=2446&listaDetalhes%5B%5D=2446&processar=Processar. Acesso em 27 12 12.

C-

 

Mitodologia durandiana - a mitocrítica

Mythodology by Gilbert Durand - the mythcriticism

Mythodologie de Gilbert Durand - la mythocritique

Marco Antônio DIB[1]

CICE-FEUSP[2], São Paulo, Brasil

Resumo

Apresentamos três exercícios de mitocrítica que realizamos em versões canônicas de mitos clássicos, tendo como referencial teórico a Mitodologia de Durand e contribuições de outros autores, particularmente as concepções de etapas e passos de um mito, de Joseph Campbell. O objetivo é contribuir para uma melhor apreensão e compreensão, interpretação e operacionalização do referencial teórico, conceitual e metodológico, durandiano. Prezando pela pluralidade, a diversidade metodológica, sabemos claramente que não existe receita, mas, por outro lado, há sim propositura(s) de método(s). Pois não se trata apenas de uma questão relativa ao “rigor científico tradicional, em busca da verdade absoluta”, mas principalmente ética e estética, em consonância com o novo espírito antropológico e científico: “a bela e boa forma”, de composições, em precisão de sintonia fina, como na música e na poesia. 

Palavras-chave: Mitos Canônicos; Mitodologia; Mitocrítica; Mitemas; Mitologemas

Abstract

We present three mythcriticism exercises that we conducted in canonical versions of classic myths, with the theoretical Mythodology by Durand and contributions from other authors, particularly the conceptions of stages and steps of a myth, of Joseph Campbell. The objective is to contribute to a better apprehension and understanding, interpretation and implementation of the theoretical, conceptual and methodological, by Durand. By valuing plurality, methodological diversity, we know clearly that there is no recipe, but, on the other hand, there is proposition (s) of method (s). Because it is not just a matter concerning "scientific rigour in pursuit of absolute truth", but especially ethics and aesthetics, in line with the new anthropological and scientific spirit mean: "the beautiful and good shape", essay on accuracy of fine tuning, as music and poetry.

Palavras-chave: Canonical Myths;  Mythodology; Mythcriticism; Mythems; Mythologems

Texto do Trabalho

Apresentamos neste estudo três exercícios de leitura mitocrítica, que realizamos em versões canônicas de mitos clássicos, e alguns quadros-sínteses elaborados para apontarmos inicialmente possíveis aproximações e comparações, com trabalhos de Campbell (2002) sobre as concepções de etapas e passos dos mitos de heróis. Leituras mitocríticas e estudos que estamos desenvolvendo e utilizamos em pesquisas sobre as sagas[3] de Lyra Belacqua[4] (Picchia, Dib, Farah, 2013) e de Harry Potter (Porto e Dib, 2014).

Para a leitura em profundidade dos mitos em análise adotamos o referencial teórico e metodológico da Mitodologia de Gilbert Durand (1982, p. 64-5, 73-4, 87-9; 1983; 1988, p. 38, 60-3, 110-1; s/d), “Ciência do Mito” e ou “Ciência do Homem”, composta pela Mitanálise e a Mitocrítica, como métodos de leituras críticas profundas, pois simbólicas, míticas e arquetipais, de contextos e textos, respectivamente. Consideramos ainda contribuições de outros autores como Araújo (1996), Araújo e Silva (1997, 1999, 2000), Dib (2002) e Teixeira (1998, 1999, 2000).

O propósito geral é desvelar o valor simbólico-cultural da mitologia clássica ocidental assim como ressaltar as questões existenciais e antropolíticas (Morin, 1969, 1970, 2007a, 2007b) que abarcam. Mais especificamente, temos por objetivo contribuir para uma melhor apreensão e compreensão, interpretação e operacionalização do referencial teórico, conceitual e metodológico durandiano, em especial, a mitocrítica.

Prezando pela pluralidade, a diversidade metodológica, sabemos claramente que não existe receita, mas, por outro lado, há sim propositura(s) de método(s) a serem considerados e utilizados, pois já firmemente validados e consolidados, sendo adequados, valiosos e profícuos instrumentos de pesquisa.

Ressaltamos que a aplicação da mitocrítica não é fácil, dá muito trabalho fazê-la, seja diretamente nos mitos (ainda que neles pareça mais fácil, pois aí as imagens vigoram, abundam e saltam aos olhos) ou mesmo em textos com alto grau de racionalização, denominados textos duros - textos legais, político-ideológicos, pedagógicos, científicos, etc. (Araújo e Silva, 1997, 1999, 2000; Teixeira, 1999, 2000; Dib, 2002). Em ambos os casos, ao realizá-la é fundamental considerar que a mitocrítica não é um procedimento metodológico mera e puramente intuitivo, que se manifesta no “eu sinto-creio-intuo que” os mitemas (e, correlativamente, redundâncias míticas e mitologemas) do mito "são...”.

Também é importante destacar que não é qualquer redundância e mesmo redundância significativa que será imediata e diretamente identificada como um mitema, a unidade mínima que compõe um mito, ou como um mitologema, o esquema-resumo mais abstrato do mito (Durand, 1983, p. 29-32; Araújo,1996, p. 466), pois é necessário normalizá-los (formular e denominá-los), considerando o universo das tradições míticas estudado, como veremos. E os mitemas e mitologemas não são derivados direta e imediatamente dos atributos dos personagens míticos (aliás, ao contrário), ainda que vinculados a eles e mesmo a outros elementos indicativos de suas presenças, como os emblemas, os epítetos etc. Sobre a normalização necessária na formulação e denominação dos mitemas e mitologemas esclarecemos que as prováveis variações dependem do esquema de ação e, portanto, do regime e estruturas de imagens, de quem as faz (Dib, 2002, p. 150). Ao lidar com a escolha de vocabulário, palavras e expressões que melhor os descrevam e os sintetizem, envolvem assim a visão de mundo do pesquisador, seus conhecimentos - repertório - de tradições e universos míticos, dos próprios mitos etc.

No cerne das problemáticas levantadas, não se encontra apenas questões relativas ao “rigor científico tradicional, em busca da verdade absoluta”, mas principalmente ética e estética, em consonância com o novo espírito antropológico e científico: “a bela e boa forma”, de composições, em precisão[5] de sintonia fina, refinada, como na música e na poesia. 

Deste modo, alicerçados nas orientações de Durand (1982) de que a determinação de mitemas se dá através do que é “aberta e obsessivamente repetido”, num primeiro momento, buscamos nos textos míticos em estudo, lidos linear e diacronicamente, os núcleos de redundâncias, reiterados em diversos pontos do texto, o que resultou em um inventário extensivo e exaustivo, como veremos adiante. Conseguimos assim, compor, selecionar e identificar nos referidos textos, determinados conjuntos, séries, famílias ou, como denominados por Durand (op. cit., p. 75), pacotes ou constelações de imagens. Agrupamentos diversos, mas que nos remetem a um mesmo significado.  Em seguida, fizemos uma leitura sincrônica do texto, criteriosamente observando as várias redundâncias localizadas, e selecionamos aquelas mais significativas e míticas. Assim, percorremos passo-a-passo as duas primeiras etapas da leitura mitocrítica, a leitura diacrônica e a sincrônica. E posteriormente, pretendemos realizar o terceiro passo, a leitura isotópica, a identificação da orientação dos mitos estudados em regimes e estruturas de imagens (Durand, 1997), mais aprofundada - a qual, nesse momento do trabalho, só a indicaremos.

Visando uma melhor compreensão do procedimento metodológico, assinalamos que, conforme características imanentes ao símbolo, “para um significado temos uma infinidade possível de significantes” (René Thom apud Durand, 1982, p. 75). Os quais, por sua vez, possuem homologia e coerência internas de sentido, o que nos permite agrupá-los e classificá-los por seus traços comuns. Cabe ainda destacar que tais pacotes significativos são constituídos, de acordo com Durand, “de imagens, de símbolos, de situações, de lugares, de emblemas, tudo o que quisermos, e que seja de algum modo coalescente ou homólogo, onde haja um traço de homologia. ” (op. cit., p. 76). A determinação de mitologemas ocorre também por meio da leitura profunda, simbólica e arquetipal, dos mitemas identificados, agrupando-os novamente em conjuntos ou constelações de imagem, observando a dinâmica a que remetem.

Enfim, basicamente o percurso dos procedimentos metodológicos executados, seguiu o seguinte roteiro de trabalho:

I-Leitura diacrônica: a) primeiro localizar, identificar e apontar as redundâncias significativas, de acordo com a sequência linear na qual aparecem no texto;

b) realizar a leitura diacrônica, propriamente dita, percebendo as rupturas, saltos, as descontinuidades na narrativa, causadas pelas redundâncias, enfim as diacronicidades que representam as redundâncias, e que já nos permitem aproximá-las, agrupar e formar pacotes-enxames-constelações de redundâncias (e, também, nesta 2º leitura, já aproveitamos para fazer uma sintetização, sistematização e normalização, no sentido de  “reduzir vocábulos, mas concentrando o sentido-significados” e de nomear o mais precisamente possível os mitemas).

II-Leitura sincrônica: a) organização e sistematização das redundâncias significativas agrupadas em “constelações” (pacotes, enxames etc.), de acordo com a homologia de sentido já constelando e identificando, formulando e nomeando definitivamente os mitemas;

b) analisar, identificar, formular e nomear também os mitologemas.

Conforme acima exposto, assim temos:

I- O Mito do Andrógino, narrado n’ O Banquete, de Platão [189d-191a] (1989)

.Redundâncias significativas míticas e mitemas[6]:

1-“três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um nome, desaparecida a coisa”

2-“andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino”

3-“inteiriça era a forma de cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo”

4-“como os que cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma roda, (...), rapidamente eles se locomoviam em círculo. ”

5-“eram três os gêneros, e tal a sua constituição, (...) eram assim circulares”   

                                                                    [mitema da totalidade primordial]

6-“Eram, por conseguinte de uma força e de um vigor terríveis, e uma grande presunção eles tinham; (...) mas voltaram-se contra os deuses, (...) [n]a tentativa de fazer uma escalada ao céu, para investir contra os deuses. ”

                                                     [mitema da transgressão da ordem divina]

7-“Zeus então e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se devia fazer com eles,... [para não] (...) permitir-lhes que continuassem na impiedade. ”

[mitema da punição divina]

8-“diz Zeus: (...) tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. ”

9-“[diz Zeus] (...) os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, (...). Se ainda pensarem em arrogância e não quiserem acomodar-se, de novo, disse ele, eu os cortarei em dois, e assim sobre uma só perna eles andarão, saltitando. ”

[mitema da fragilidade da condição humana]

10-“ [Zeus] (...) pôs-se a cortar os homens em dois”

                                                                                              [mitema da punição divina]

11-“a cada um que cortava mandava Apolo voltar-lhe o rosto e a banda do pescoço para o lado do corte, a fim de que, contemplando a própria mutilação, fosse mais moderado o homem, e quanto ao mais ele também mandava curar. ”

[mitema da fragilidade da condição humana]

12-“Apolo torcia-lhes o rosto, e repuxando a pele de todos os lados para o que agora se chama o ventre, como as bolsas que se entrouxam, ele fazia uma só abertura e ligava-a firmemente no meio do ventre, que é o que chamam umbigo.”

13-“As outras pregas, numerosas, ele [Apolo] se pôs a polir, e a articular os peitos, com um instrumento semelhante ao dos sapateiros quando estão polindo na forma as pregas dos sapatos”                                            

                          [mitema da previdência / providência divina - a prudência divina]

14- “umas poucas [pregas] ele [Apolo] deixou, as que estão à volta do próprio ventre e do umbigo, para lembrança da antiga condição. ”

                                   [mitema da nostalgia da condição primordial perdida]

15-“desde que a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral, por nada quererem fazer longe um do outro. (...); e assim iam-se destruindo. ”

16-“E sempre que morria uma das metades e a outra ficava, a que ficava procurava outra e com ela se enlaçava, quer se encontrasse com a metade do todo que era mulher - o que agora chamamos mulher — quer com a de um homem; e assim iam-se destruindo. ”

                                                   [mitema da fragilidade da condição humana]

                                         

17-“Tomado de compaixão, Zeus consegue outro expediente, e lhes muda o sexo para a frente”

                           [mitema da previdência / providência divina - a prudência divina -]

18- “E então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. ”

                                      [mitema do resgate da condição primordial perdida]

19-“Cada um de nós portanto é uma téssera complementar de um homem, porque cortado como os linguados, de um só em dois”

                                                        [mitema da totalidade primordial perdida]

20- “e procura então cada um o seu próprio complemento. ”  

                                   [mitema da nostalgia da condição primordial perdida]

II- O Mito de Prometeu e Epimeteu, narrado no Protágoras, de Platão [320c6 a 322d4] (1972)

.Redundâncias significativas míticas e mitemas:

1-“ [os deuses] determinaram [a] Prometeu e Epimeteu enfeitá-los e distribuir a cada um deles [dos gêneros mortais] as qualidades convenientes. ”

2-“Epimeteu pede a Prometeu que o deixe fazer a distribuição. (...) [e que depois venha] examinar. ”

3- “ [Epimeteu] convenceu [Prometeu] e fez a distribuição. ”

4- “ [Epimeteu] fez a distribuição com o mesmo equilíbrio. (...) providenciava (...) tendo o cuidado de que nenhuma espécie desaparecesse. (...) ele providenciou defesa diante das estações de Zeus (...). (..) providenciou alimentos diferentes a cada um (...). / (...) ele concedeu (...) descendência (...) [para a] salvação da espécie. ”

5- “e, roubando a arte do fogo de Hefesto e a outra de Atena, ele dá ao homem”

6- “[Prometeu] presenteia o homem [com a arte do fogo e a sabedoria artesanal]. / (...) [Prometeu] dá ao homem [a arte do fogo e a sabedoria artesanal]. ”

7- “Zeus (...) envia Hermes trazendo aos homens pudor e justiça”

8- “Hermes pergunta a Zeus de que maneira ele daria aos homens justiça e pudor”

9-“[Zeus disse que Hermes repartisse pudor e justiça] sobre todos (...) e que todos tenham parte delas, pois não poderia haver cidade se poucos delas participassem como de outras artes”

[mitema da previdência / providência divina - a prudência divina]

10- “Epimeteu não sendo lá muito sábio, sem perceber, gastou as qualidades com os irracionais; fica-lhe ainda abandonado e desnudado o gênero humano e ele não sabia que iniciativa tomar. ”

11-“chega Prometeu para fiscalizar a distribuição e vê que os outros seres têm cuidadosamente de tudo e que o homem está nu, descalço, desprotegido e desarmado. ”

                                                   [mitema da fragilidade da condição humana]

12- “. Prometeu rouba de Hefesto e Atena a sabedoria artesanal com o fogo”.

13-“[Prometeu] entra sem ser percebido [na habitação de Atena e Hefesto] e, roubando a arte do fogo de Hefesto e a outra de Atena, ele dá ao homem”

                                                       [mitema da transgressão da ordem divina]

14-“o homem passou a possuir a sabedoria a respeito da vida, mas a política ele não possuía pois que estava junto a Zeus. ”

15- “e a partir daí vem ao homem a facilidade da vida. ”

16- “E porque o homem passou a participar da divindade (...) [e] a reconhecer os deuses e se pôs a erigir altares e imagens dos deuses. ”

17- “[o homem] se pôs a articular a arte dos sons e nomes e inventou as casas, as roupas, os calçados, os cobertores e da terra os alimentos. ”

[mitema da elevação contínua da condição humana]

18-“Um processo por roubo atingiu Prometeu. ”

19-[Zeus disse ainda a Hermes que fixe] uma lei em seu nome, de matar, como uma doença da cidade, o que é incapaz de participar de pudor e justiça. ”

                                                    [mitema da punição divina]

III- O Mito de Adão e Eva, narrado na Bíblia, em Gênesis [3, 1-24] (CNBB, 2015)

.Redundâncias significativas míticas e mitemas:

1. A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comais de nenhuma das árvores do jardim? ’”

[mitema da tentação demoníaca na ordem paradisíaca original]

2. A mulher respondeu à serpente: “Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. 3. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário morrereis.

[mitema da ordem paradisíaca original]

4. Mas a serpente respondeu à mulher: “De modo algum morrereis. ’” 5. Pelo contrário,

[mitema da tentação demoníaca na ordem paradisíaca original] 

                                                                                                      

[5.] Deus sabe que, no dia em que comerdes da árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”.  “6. A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para obter conhecimento.

       [mitema da culpa original]

[6.] [A mulher] Colheu o fruto, comeu dele e o deu ao marido a seu lado, que também comeu. ”

           [mitema do pecado original]

7. Então os olhos de ambos se abriram, e, como reparassem que estavam nus, teceram para si tangas com folhas de figueira. 8. Quando ouviram o ruído do Senhor Deus, que passeava pelo jardim à brisa da tarde, o homem e a mulher esconderam-se do Senhor Deus no meio das árvores do jardim. 9. Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: “Onde estás? ” 10. Ele respondeu: “Ouvi teu ruído no jardim. Fiquei com medo, porque estava nu, e escondi-me”.  11. Deus perguntou: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer? ”                  

                [mitema da culpa original]

12. O homem respondeu: “A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi”. 13. Então o Senhor Deus perguntou à mulher: “Por que fizeste isso? ” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me, e eu comi”.

           [mitema da tentação demoníaca na ordem paradisíaca original]

14. E o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Rastejarás sobre teu ventre e comerás pó todos os dias de tua vida. 15. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. 16. À mulher ele disse: “Multiplicarei os sofrimentos de tua gravidez. Entre dores darás à luz os filhos. Teus desejos te arrastarão para teu marido, e ele te dominará”. 17. Ao homem ele disse: “Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer, amaldiçoado será o solo por tua causa. Com sofrimento tirarás dele o alimento todos os dias de tua vida. 18. Ele produzirá para ti espinhos e ervas daninhas, e tu comerás das ervas do campo. 19. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo, do qual foste tirado. Porque tu és pó e ao pó hás de voltar”. 20. O homem chamou à sua mulher “Eva”, porque ela se tornou a mãe de todos os viventes.

                                           [mitema do castigo divino]

21. E o Senhor Deus fez para o homem e sua mulher roupas de pele com as quais os vestiu.                                                                                       

                           [mitema da previdência / providência - a prudência - divina]

22. Então o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, capaz de conhecer o bem e o mal. Não ponha ele agora a mão na árvore da vida, para dela comer e viver para sempre”. 

             [mitema da culpa original]

23. E o Senhor Deus o expulsou do jardim de Éden, para que cultivasse o solo do qual fora tirado. 24. Tendo expulso o ser humano, postou a oriente do jardim de Éden os querubins, com a espada fulgurante a cintilar, para guardarem o caminho da árvore da vida. ”                                                 

                    [mitema da expulsão do paraíso original ou mitema do castigo divino]

Na impossibilidade de aqui retomar as principais tradições dos mitos canônicos em estudo e os respectivos universos mítico-simbólicos que os envolvem, já expostos detalhadamente em estudo anterior, a ele remetemos (Dib: 2002, p. 141-174)[7]. Por ora, apenas sinalizamos os regimes de imagem e estruturas a que estão subsumidos e explicitamos a família mítica a que são filiados bem como seus atributos, e identificamos os mitemas e mitologemas que os configuram, conforme a mitocrítica que realizamos (quadros I, II e III):

Quadro I - Mito canônico: o Mito do Andrógino, narrado n’O Banquete, de Platão

M

I

T

E

M

A

S

mitema da totali-dade primor-dial

mitema da trans-

gressão da ordem divina

mite-ma da puni-ção divi-na

mitema da fragilida-de da condição humana

mitema da totali-dade primor-dial perdida

mitema da previ-

dência / provi-dência - a pru-dência divina

mitema da nostal-gia da condi-ção primor-

dial perdida

mitema do resgate da condi-ção pri-mor-dial perdi-da

M

I

TO

LOGEMA

S

MITOLOGEMA DA DEGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA REGENERAÇÃO

QUADRO II – Mito canônico: o Mito de Prometeu e de Epimeteu, narrado no Protágoras, de Platão

MITEMAS

mitema da fragilidade da condição humana

mitema da transgressão da ordem divina

mitema da punição

divina

mitema da previdência / providência – a prudência divina

mitema da elevação contínua da condição humana

MITOLOGEMAS

MITOLOGEMA DA DEGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA REGENERAÇÃO

QUADRO III – Mito canônico: Mito de Adão e Eva, narrado na Bíblia, “Gênesis 3, 1-24”

M

I

T

E

M

A

S

mitema da ordem paradisíaca original

mitema da tentação demoníaca na ordem paradisíaca original

mitema do pecado original

mitema da culpa original

mitema do castigo divino

e ou

mitema da expulsão do paraíso original

mitema da previdência / providência – a prudência divina

MITO-

LOGE-

MAS

MITOLOGEMA DA QUEDA

MITOLOGEMA DA ASCENSÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Mito do Andrógino, na tradição de Platão[8], através de Aristófanes, é um mito do regime noturno, estrutura sintética e está filiado, em suas origens, à família mítica titanesca. O Andrógino tem por principais atributos aqueles que gravitam em torno da ideia de perfeição: total, pleno, completo, integral, enfim, perfeito. Como podemos observar (quadro-síntese I) tais atributos não são imediata e diretamente os mitemas (com exceção do primeiro) e mitologemas deste mito; ao contrário, é de seu primeiro mitema que derivam os atributos.

Lembramos que o universo das tradições míticas que abarcam o Mito do Andrógino remete-nos também aos Mitos da Idade de Ouro, da Ilha da Bem-Aventurança, do Paraíso[9] etc.; mitos do regime noturno, estrutura mística. E que, por isso, acabam por ter como atributos os mesmos que são recorrentemente atribuídos ao Andrógino, derivando-os (acentuados pela visão mística) em outros, tais como: felicidade, satisfação, bem-estar, abundância, tranquilidade, paz, justiça, harmonia, equilíbrio, conciliação etc. Todos, de algum modo, expressões do mitema da totalidade primordial. Segundo Araújo e Silva (2000, p. 190) os mitemas do Mito da Idade do Ouro (e, pressupomos, de seus correlatos) são: os mitemas da paz, da abundância, da justiça, também expressões do mitema da totalidade primordial.

Considerando que neste universo de tradições míticas há muitas versões de mitos que apresentam processos de corrupções e decadências, por exemplo, o Mito das Raças Humanas, também pressupomos, assim, que provavelmente seus mitologemas sejam a degeneração e regeneração. Os quais poderiam ser expressos (formulados e denominados) como mitologema do mundo outro e ou mundo novo – seja “o mundo” todo ou o que há nele: a sociedade, a humanidade, o próprio ser humano e todas as suas instituições etc. Portanto, o denominamos de modo mais amplo que apenas tema ou mitologema do “homem novo” (Araújo, 1996, p. 465-7 e Araújo e Silva, 1999, p. 93).  Pois, considerando seu contrário, exprime claramente a eterna dinâmica entre “o velho” x “o novo” e ou entre “o mesmo” (identidade, “eu constante”, ser o mesmo) x “o outro” (alteridade, ser outro); trata-se da dinâmica da constituição-instituição do ser de todas as coisas, das próprias “coisas” em seres, assim remetendo-nos também aos Mitos de Origem. Enfim, é o movimento do Tempo (Cronos, que a tudo devora, mas também dá origem), que expressa a dinâmica de tudo que é ciclicamente aniquilado e reconstruído, terminado e reiniciado – recomeçado, reconstituído, recuperado, resgatado, ressurgido, renascido -, em uma temporalidade cíclica. O que, por sua vez, nos remete ao universo e tradições míticos do Mitos do Dilúvio, do Mito de Pigmalião e Pirra, e outros correlatos.

Também o Mito de Prometeu e Epimeteu, mito do regime diurno, estrutura heroica, é filiado à família mítica titanesca. Prometeu[10] tem por principais atributos, o ser: revoltado, desobediente, revolucionário - e, em decorrência destes - corajoso, destemido e altivo - todos estes atributos, como podemos observar, fundam-se na sua origem, em seu parentesco com os Titãs (Dib, 2002, p. 150-1). Ainda, ele é filantropo, amigo, altruísta, solidário, pai generoso, previdente e providente, prudente, reflexivo, consciente, e também herói, triunfante, benfeitor/civilizador da humanidade, crente nas potencialidades e capacidades humanas. Como vimos (quadro-síntese II), novamente, os atributos não são imediata e diretamente os mitemas e mitologemas do mito em questão, mas a eles estão intrinsicamente vinculados, e deles são derivados.

Já o Mito de Adão e Eva é um mito do regime diurno, estrutura heroica, e também, por mitos correlatos antecedentes, filiado à família mítica titanesca. Os principais atributos de Adão e Eva são: transgressores, erráticos, decaídos, pecadores, enfim ordinários[11], pois expulsos do paraíso, para a mundo da temporalidade corruptível, perdendo sua condição primordial extraordinária – atributos que também não definem direta e imediatamente, os mitemas e os mitologemas que o configuram, conforme a leitura mitocrítica (quadro-síntese III), mas deles também são derivados.

A análise minuciosa do que subjaz aos três grandes mitos canônicos estudados (e demais mitos a eles vinculados) mostra que são as grandes questões básicas da existência humana, a condição existencial humana, com a “entrada” ou “queda” do homem na temporalidade corruptível: a existência, a Vida e a Morte, a luta pela sobrevivência[12] em sociedade, em todos seus desdobramentos, e a fragilidade humana - a mortalidade, o desejo vital e a aspiração de alcançar a imortalidade, de superar e ou transcendê-las. Assim como questões pertinente à politização e eticização da condição humana[13], tão bem (re)postas contemporaneamente por Edgar Morin em sua vasta e profundas reflexões. Lembramos como toda narrativa e ou discursividade têm suas raízes profundas nos mitos, o mesmo ocorre com os mitos políticos (Rezler, 1984; Durand, 2004; Sironneau,1985 e 2000, entre outros).

Temos, assim, as convergências e confluências dos universos e tradições míticos a que nos referimos, na constituição de uma mitologia do herói (Campbell: 2002), do Mito do Herói, mitos do regime diurno, estrutura heroica, também filiados à família mítica titanesca. Seus atributos são aqueles derivados dos atributos como do Andrógino, de Prometeu e de Adão e Eva (antes da queda, ou por inversão, após a queda), conforme apontados anteriormente.

Como podemos observar, tais convergências configuram o protótipo, ou melhor, o arquétipo do herói, seja o herói sagrado-religioso do mundo extraordinário ou o profano-secularizado do mundo cotidiano temporalizado, vivenciando suas aventuras arquetípicas, sagas, buscas, enfim, jornadas heroicas, tal como em um mito.

Para Campbell, baseando-se em estudos comparativos das mitologias de toda a humanidade, principalmente os temas e motivos comuns a todas elas (Campbell, 1992; 2006, p. 163), a jornada do herói, é compreendida como uma narrativa simbólica, mítica e arquetipal e, deste modo, se estrutura em um monomito (Campbell, 2002: 36) - a estrutura básica de um mito, definida em estágios e ou fases, considerando suas diferentes versões. O que, segundo Porto e Dib (2014, p. 2) “nos conduz inevitavelmente a uma fenomenologia do sagrado, à busca de uma experiência numinosa, que nos introduz em outro tempo e espaço” (tempo mítico, tempo cíclico, do eterno recomeço, onde tudo é possível, e numa terra ao mesmo tempo distante e íntima). Pois, “decorre no illo tempore, e ruma para a completude do existir”. Assim, ela “é sempre uma aventura mitológica, a qual, para algumas correntes junguianas, pode corresponder ao próprio processo de individuação”.

De acordo com Campbell (2002, p. 36; 2006, p. 163), o percurso padrão dessa aventura, em sua estrutura elementar, é representado pela fórmula presente nos rituais de passagem - e que se fazem presente também na configuração do mito - sendo composta por passos e, como desdobramento destes, etapas (Porto e Dib, 2014: 6), as quais algumas são absolutamente necessárias e outras apenas contingenciais, que consistem em:

QUADRO IV-Etapas e passos da jornada do herói

E

T

A

P

A

S

o mundo cotidiano

o caminho das provas iniciáticas

o caminho de volta

o chamado à aventura

o encontro com o Mestre

a fuga mágica (voo mágico)

a recusa ao chamado

a preparação para a provação suprema

o resgate com auxílio externo

o auxílio do sobrenatural

o aprendizado

a passagem pelo limiar do retorno

a travessia do primeiro limiar

a provação suprema

a ressurreição

o ventre da baleia

a bênção última

a dádiva para o mundo

PASSOS[14]

A PARTIDA

A INICIAÇÃO

O RETORNO

QUADRO V – Mito do Herói

ETAPAS

(OU

M

I

T

E

M

A

S)

DA JORNADA DO HERÓI

o mundo cotidiano

o caminho das provas iniciáticas

o caminho de volta

o chamado à aventura

o encontro com o Mestre

a fuga mágica (voo mágico)

a recusa ao chamado

a preparação para a provação suprema

o resgate com auxílio externo

o auxílio do sobrenatural

o aprendizado

a passagem pelo limiar do retorno

a travessia do primeiro limiar

a provação suprema

a ressurreição

o ventre da baleia

a bênção última

a dádiva para o mundo

PASSOS (OU MITO-LOGE-MAS )

A PARTIDA

A INICIAÇÃO

O RETORNO

QUADRO VI-Mitemas e mitologemas dos mitos canônicos analisados (I, II, III) e etapas e passos da jornada do herói (IV e V)

M

I

T

E

M

A

S

mitema da totalidade primor-

dial

MITO I

mitema da trans-gressão da ordem divina

mitema da puni-ção divina

mitema da fragili-dade da condi-ção humana

mitema da totalida-de primor-dial perdida

mitema da previdên-cia / providên-cia – a prudência divina

mitema da nostalgia da condição primordi-al perdida

mitema do resgate da condição primor-dial

perdida

MITO II

mitema da trans-gres-são da ordem divina

mitema da puni-ção

divina

mitema da fragilida-de da condição humana

mitema da previdên-cia / providên-cia – a prudência  divina

mitema da eleva-ção contí-nua da condi-ção humana

mitema da ordem paradisía-ca original

MITO III

mitema da tentação demo-níaca na ordem paradí-siaca original

mitema do pecado origi-nal

mitema da culpa origi-nal

mitema do castigo divino

[e ou* ...

... *e ou

mitema da expulsão do paraíso original]

mitema da previdên-cia / providên-cia – a prudência divina

M

I

TOLO

GEMAS

[15]

MITOLOGEMA DA DEGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA DEGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA QUEDA

MITOS I, II E III

MITOLOGEMA DA REGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA REGENERAÇÃO

MITOLOGEMA DA ASCENSÃO

MITOLOGEMA OU PASSO        

DA PARTIDA

MITO OU JORNADA DO HERÓI IV E V

MITOLOGEMAS OU PASSOS

DA INICIAÇÃO

DO RETORNO

E

TAPAS[16]

o mundo cotidiano

o chamado à aventura

a recusa ao chamado

o auxílio do sobrenatural

a travessia do primeiro limiar

o ventre da baleia

MITO OU JORNADA DO HERÓI IV E V

o caminho das provas iniciáticas

o encontro com o Mestre

a preparação para a provação suprema

o aprendizado

a provação suprema

a bênção última

o caminho de volta

a fuga mágica (do voo mágico)

o resgate com auxílio externo

a passagem pelo limiar do retorno

a ressurreição

a dádiva para o mundo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Considerando os três mitos canônicos analisados, temos no total vinte mitemas que, não computadas as repetições, as coincidências, compõem um repertório de onze mitemas essenciais estruturalmente articulados (quadro-síntese VI, p. 18). Significativamente, entre os onze essenciais, oito deles são originários do Mito do Andrógino, um do Mito de Prometeu e Epimeteu (cujo outros quatros mitemas também coincidem com os do mito anterior) e dois do Mito de Adão e Eva (do qual outros dois não se encontram originalmente no Mito do Andrógino, tampouco no de Prometeu e Epimeteu; justamente aqueles que expressam a cultura e a visão judaico-cristã).

Se como um todo, o repertório mitêmico explicitado parece ser, ao que tudo indica, a matriz instituinte da grande narrativa e discursiva sobre a condição existencial humana, evidenciamos que abarcam o universo e tradições míticas ocidentais, as culturas:

a) judaico-cristã, destacando-se aí dois mitemas: a tentação demoníaca na ordem paradisíaca e a culpa originais, que expressam a perturbação – instabilidade - na ordem, nos sentidos de organização dada, imposta, e de interdição e (des)obediência (a ordem inicial, a tentação, o pecado, a culpa, o castigo e ou expulsão do paraíso).  Está nela pressuposta a (super)visão de um deus-pai criador sobre suas criações na ordem paradísiaca original, os interditos e o maniqueísmo entre bem e mal, reafirmando a visão religiosa cristã e despolitizando o mito. Segundo Campbell (2006, p. 102), é “baseada numa mitologia de culpa universal. Houve aquela Queda lá no começo, no Jardim e desde aquela época temos sido todos pecadores inatos. ”

b) grega clássica, prometeica, e posteriormente, também latina, destacando-se o mitema da elevação contínua da condição humana, que expressa a profunda crença nas capacidades do ser humano e seu contínuo progresso, em desenvolvimento constante, “contra a fé nos deuses” (Araújo, 1996, p. 472-4; Araújo, 2000, p. 6) e a favor da politização do mito e sua secularização. Mitema este que, observamos, trata-se da enandiodromia[17] da “queda contínua da condição humana” e também de derivação, do mitema da fragilidade humana da condição humana: a grandiosidade – no sentido de força, independência, autonomia, emancipação, liberdade etc., rumo à plenitude, integralidade, completude, perfeição (Araújo, 1996, p. 467; Araújo, 2000, p. 5-9). O que nos remete à temática do heroísmo e triunfalismo, com deleite e ênfase na culminância do ideal de perfeição (Campbell: 1990, p. 145), que se faz muito presente na cultura clássica grega.

Os mitologemas identificados nos três mitos analisados, seis no total (quadro-síntese VI, p. 18), não computadas as coincidências, compõem um repertório de quatro mitologemas essenciais, que por sua vez, articuladamente estruturados, podem ser agrupados dois a dois, sob os sentidos da dinâmica temporal, seja cíclica ou linear: a degeneração e regeneração, a queda e a ascensão.

Observamos ainda que o passo da partida (ou separação, segundo Campbell) é equivalente ao mitologema da degeneração ou queda (quadro-síntese VI, p. 19), pois desde a etapa do “o mundo cotidiano” até a etapa do” ventre da baleia”, temos um processo degenerador e descensional: a “descida nas trevas” ou “queda no ventre da baleia” (Campbell: 1990, p. 155). Também, os passos da iniciação e do retorno, juntos, são equivalentes desdobrados do mitologema da regeneração ou ascensão, pois desde as etapas do “o caminho das provas iniciáticas” até a etapa da “a dádiva para o mundo” (última parte do quadro VI, p. 18), temos um progressismo de elevação, regenerador e ascensional.

A leitura profunda e detalhada dessas etapas e passos do mito do herói em sua jornada, nos permitiu, seja a partir de uma análise psicológica profunda de suas qualidades essenciais, como indica Campbell, ou da mitocrítica de Durand, nos abre a possibilidade, de aproximações e comparações entre eles, pois ambos lidam com elementos estruturais, configurativos, da narrativa mítica. Assim, além das perspectivas filosóficas existenciais e profundamente humanísticas de ambos os autores convergirem (bem como com Morin), as concepções de mito-mitologemas-mitemas e jornada-passos-etapas, não só dialogam como são estruturalmente comutáveis, intercambiáveis, como apresentamos e mostramos acima.

É importante ressaltar, como já sinalizado anteriormente, que todo o repertório mítico que nos referimos, em suas configurações e estruturas (mito-mitologemas-mitemas e ou jornada mítica-passos-etapas) nos possibilita, por evidências diretas e indiretas, remontar -reconstituir - toda uma grande matriz narrativa e ou discursiva mítica, religiosa, mística, teológica, etc. e até mesmo filosófica. Matriz que abarca as grandes questões da existência e condição humanas – sua existência, sua fragilidade e grandiosidade, sua rebeldia e luta contra o Tempo e a mortalidade: a aventura humana (Greco, 1984), a grande saga da humanidade, que como uma jornada heroica, é uma luta perpétua da vida contra a morte (Morin, 1970, p. 172-3 e 255-6).

Como bem expressa Durand (1988, p. 71), a “dialética interior ao devaneio dialogado reequilibra continuamente [a] (...) humanidade e, por uma espécie de pilotagem automática, conduz continuamente o conhecimento à problemática da condição humana”.

Neste sentido, o que subjaz às narrativas míticas da luta incansável e sem fim da humanidade contra o Tempo, é a cisão originária da condição humana que a constituiu como tal ao temporalizá-la. É a inserção do ser humano (sua origem e “des”-envolvimento) no Tempo, provocando uma profunda angústia existencial diante da vida e da morte, bem como o desejo profundo de superá-las, ou melhor, transcendê-las, e não apenas aceitá-las como são.

A busca, a procura (a jornada, a saga, a aventura etc.) é de inteligibilidade do(s) sentido(s) e significado(s) da existência humana e de sua identidade como ser humano; é de inteligibilidade de si, pessoal - a individualidade- e ou coletiva, eu e os outros - a coletividade-. Ambas intrínseca e constitutivamente articuladas à dinâmica da identidade- alteridade, do reconhecimento de si, por si e por todos os outros do mundo, como vimos. Mas é também, simultaneamente, a busca de “experiências de estar vivo, do enlevo de estar vivo”, que ressoem no interior da intimidade do nosso ser e realidade (Campbell, 1990).

Conforme Durand, nas noções de profundidade e profundidade simbólica (s.d.: p. 122-34), o imaginário, o arquetipal e o mítico coincidem, sobredeterminando a ordem profunda do(s) sentido(s) que o homem a tudo busca atribuir, ao tentar dar respostas lógicas, racionais às grandes questões da condição existencial humana (Dib, 2002: 60).

São os mitos e ou jornadas míticas, configurações do imaginário e, portanto, da cultura, projetivos das questões fundamentais da existência e da condição humana, diante às quais percebemos, sentimos, imaginamos pensamos e agimos. E, por isso, ressoam tão profundamente no ser humano, “impulsionando o querer saber: de onde viemos, onde estamos, e para onde vamos; quem somos? [: qual nossa origem? qual o sentido? porque e para que existimos? etc.]. Perguntas as quais, sabemos, presentes em todas as sociedades e constantes em todas as épocas” (Picchia, Dib, Farah, 2013), nos mitos, arquétipos e símbolos, e que exigem a busca de respostas, mas não a garantia de respostas absolutas.

 A Mitodologia (a mitocrítica e a mitanálise) muito contribui neste sentido, mas particularmente, a mitocrítica é complexa, não é fácil e é trabalhoso realizá-la. Não é um procedimento metodológico meramente intuitivo, e exige método(s). E, portanto, os vários cuidados assinalados: pois não é qualquer redundância e mesmo redundância significativa que será imediata e diretamente identificada como um mitema ou mitologema (os quais, por sua vez, não serão derivados, direta e imediatamente, dos atributos dos personagens míticos – pelo contrário -, ainda que vinculados a eles e mesmo a outros elementos indicativos de suas presenças) etc.; também é importante como normalizá-los (formular e denominá-los).

Prezando pelo diálogo da mitodologia durandiana com outros referenciais teóricos e metodologias, para além das observações metodológicas operacionais que fizemos, sabemos que o que está em jogo, não se trata apenas de uma questão relativa ao “rigor científico tradicional, em busca da verdade absoluta”. Mas sim principalmente ética e estética, em consonância com o novo espírito antropológico e científico: “a bela e boa forma”, como nas composições artísticas, na música, na poesia etc., fundadas na razão intuitiva e sensível, em sintonia fina (detalhes, sutilezas, minúcias, singularidades etc.), refinada em precisão, no tão intricado e complexo “uni-verso” da condição existencial humana, neste...

Teatro vital: entre a antinomia primordial dos absolutos absolutos - a Vacuidade e a Plenitude, do Caos ao Cosmo

Teatro vital...

A vida e a morte:

em cena,

a cena,

a sina,

  a sorte.

...O VAZIO,

A

B

S

O

L

U

T

O.

O CAOS,

O COSMO,

O PLENO...

A

B

S

O

L

U

T

O.

                  

                A DES

SEPARAR , INICIALMENTE

ORDEM:

PARA DETERMINAR,

DEFINIR E,            NOVAMENTE,                REUNIR, RETORNAR

O NADA,

O NENHUM,

AS COISAS,

AS PARTES,

OS SERES,

AS CAUSAS,

O TUDO.

O TODO:

 

 

 

 

Nos acenam

e ensinam,

fazem cenas e

fascinam:

A vida e a morte:

Teatro vital...

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Alberto Filipe. O tema do “homem novo” no discurso pedagógico de João de Barros: subsídios para uma mitanálise em educação in Revista Análise Psicológica, Braga: Universidade do Minho, 4(XIV), 1996, p. 465-477.

________; SILVA, Armando Barreiros Malheiro da. Mitanálise e interdisciplinaridade: subsídios para uma hermenêutica em educação e ciências sociais in Separata da Revista Portuguesa de Educação, Braga: Universidade do Minho, 8(1 e 2), 1997, p. 117-142 e 131-146.

________; SILVA, Armando Barreiros Malheiro da. A mitanálise entre a história e a não-história: subsídios para uma hermenêutica do texto pedagógico in: MAGALHÃES, Justino (org.). Fazer e ensinar história da educação. (Atas do 2º Encontro de História de 8-9 de novembro de 1996). Braga: IEP/CEEP, 1999, p. 75-119.

.________; SILVA, Armando Barreiros Malheiro da. A imagem das reformas educacionais - Brasil e Portugal -: um ensaio mitanalítico in PORTO, Maria do Rosário Silveira (org.). Tessituras do imaginário: cultura e educação. Cuiabá: Edunic/CICE/FEUSP, 2000, p. 185-221.

ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.

BARROS, Gilda Naécia Maciel de. Platão, Rousseau e o estado total. São Paulo: T. A. Queiroz, 1996.

CNBB - Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (2015) – Bíblia católica online. Gênesis 3, 1-24. Disponível em

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BRAVO, Nicole Fernandez. Duplo in BRUNEL, Pierre (org.). Duplo. Dicionário de mitos literários. São Paulo: UnB-José Olympio, 1998, p. 261-87.

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[2]-Centro de Estudos do Imaginário, Cultura e Educação - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

[3]-Compreendendo saga como “narrativa heroica de percursos de vida, jornada que se desenrola em aventuras e desafios face à necessidade de transposição-superação de situações-limites da condição humana. ” (Picchia, Dib, Farah, 2013, p. 5-6)

[4]-Protagonista, heroína principal da trilogia de literatura fantástica “Fronteiras do Universo”, do escritor inglês Philip Pullman.

[5]-Precisão: “pré-cisão”, como estado de apreensão e compreensão da totalidade, de captação das conexões entre o todo e as partes, entre as partes e o todo.

[6]-Se cotejarmos a íntegra das versões deste e dos outros dois mitos canônicos estudados e aqui apresentamos, será possível observar que, quando possível, eliminamos as redundâncias menos significativas. A ordenação numérica corresponde a leitura na sequência linear do mito. Os respectivos mitemas e mitologemas que os configuram serão apresentados em quadros-sínteses (I, II e III, adiante).

[7]-Ver também Araújo, 2000, p. 5-9.

[8] -Sobre a mitologia de Platão e a condição humana ver Droz (1997).

[9]-E, interessantemente, sob diversos aspectos, incluindo a Literatura, ao Mito do Duplo, conforme Bravo (1998, p. 261-87). Mitos os quais ainda não realizamos uma leitura mitocrítica, mas que pretendemos realizá-las futuramente.

[10]-E, talvez, só Prometeu, lembrando aqui o ocultamento e ou negativação da figura de Epimeteu na modernidade e na contemporaneidade.

[11]-Em contraponto ao extraordinário, mas também com todos seus sentidos negativos.

[12] -Cujo próprio fundamento mítico seria a arte política (Barros, 1996, p. 101-2).

[13]-Cabe aqui relembrar os vínculos intrínsecos entre a condição humana (Arendt, 1981) e o gregarismo vital, ressaltando a etimologia polis-demo-comunidade-cidade e a necessária reflexão sobre a reparadigmatização, a recondução da razão aos seus limites e os mitos políticos em um novo paradigma.

[14]-Denominados originalmente por Campbell (2002; 1990, p. 145; 2006: p. 163-186) de separação-iniciação-retorno ou partida-realização-remissão.

[15] - Ou PASSOS, conforme Campbell.

[16]- Ou MITEMAS, conforme Durand.

[17]-Inversão radical de sentido, fenômeno estudado por Carl Jung. Aliás, os Mitos do Andrógino e de Prometeu e Epimeteu são exemplares clássicos ocidentais de extrema polarização enandiodrômica, em consonância com os regimes e estruturas de imagens de Durand (1997). E configuram as posturas básicas do ser humano diante da fuga do Tempo e da Vida-Morte (dominantes posturais): de adesão (o instinto de realização plena: dissolver-se no todo, fundir-se, confundir-se na totalidade) ou de combate (em consonância com o instinto de sobrevivência e conservação: existir, insistir, “re-existir”, resistir).

 

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