FUNDAÇÃO COOPERATIVA

SOLIDÁRIA - GENsTE


“GESTÃO DE ESTUDOS E EMPODERAMENTOS 'NOVAS TRAQUINAGENS DE EROS'”

Programas

Educar... é Resistir!

Notas musicais

 “Existir. A que será que se destina?”

(Cajuína - Caetano Veloso)

 

          Quais possíveis sentidos envolvem a existência humana? Questão vital, impossível de ser respondida apenas pela via da racionalização, da razão. Educar para a vida é, de alguma forma, provocar tentativas de respostas à questão que Caetano Veloso nos apresenta, é afirmar a existência e resistir - “re-existir” - aos sentidos externos que a educação bancária nos impõe.

       Uma educação que se queira minimamente humana e ética preza por respeitar a dimensão experiencial e existencial do educando, permitindo que ele doe e escolha um significado para a sua existência.

        A condição necessária para efetivar tal intento é aproximar a Arte e a Educação de modo a possibilitar uma educação sensível na qual o educando se veja a si em relação com sua comunidade, cultura e vida, como sinaliza, J.-F. Duarte Jr.

        Ao falarmos da necessidade de se respeitar a dimensão vivida do ser humano queremos com isso assinalar que grande parte dos conceitos e sentidos a serem aprendidos estarão fortemente mesclados às experiências e vivências que eles trazem consigo, ainda que veladas.

        É apenas percebendo que um novo conceito tem significado e valor para sua existência que o ser humano pode definitivamente acolhê-lo e apre(e)ndê-lo. Assim, só é possível que um ribeirinho, habitante do seio da mata amazônica, aprenda o que é a poluição de CO2 - tão comum as capitais nacionais - se lhe explicarem esse novo conceito mobilizando toda rede de relações que ele mantem com seu meio, subsistência, família e comunidade.

       Além disso, caberia a todo educador disponibilizar “meios ou ferramentas” artísticas pautadas em vivências e experimentações para que as pessoas aprendam autenticamente os conceitos e sentidos que se quer desenvolver.

       Pois, é necessário criar no vivenciar os novos conceitos e mesclá-los à ação construtiva do próprio ser humano, ao dar livre vazão a sua fantasia desinteressada, criando novos sentidos para si e para a vida.

       É hora de abandonarmos a caduca ideia de que só se aprende olhando e escutando, e acolhermos a ideia de que apre(e)nder é fundamentalmente viver os novos sentidos e conceitos em profunda ligação com a nossa existência, assentando-os no solo fértil de nossa imaginação, sonhos e devaneios.

        É possibilitando essa educação que se faz por meio da sensibilidade que poderemos desenvolver a consciência estética.

     Compreendemos por consciência estética uma atitude mais harmoniosa e equilibrada perante o mundo, em que os sentimentos, a razão, e a imaginação se integram; em que os sentidos e valores dados à vida são assumidos no agir cotidiano, em uma atitude na qual não exista distância entre intenção e gesto. Enfim, o desenvolvimento da capacidade íntima de discriminar e escolher e a busca de uma visão global do sentido pessoal da existência. É essa consciência estética que poderá reintegrar o homem que hoje está mutilado, para assim ser administrado e controlado de modo mais eficiente, visando à ampliação da exploração, da opressão e do lucro.

... é Arte

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        Assim, possíveis caminhos para outra educação apontam para os fundamentos estéticos da educação. É desejável e possível uma nova educação que reconduza a razão aos seus limites e priorize a ampla esfera do Sentimento humano (razão e Sentimento). Ou seja, considerar devidamente a dimensão estética do ato de educar e a capacidade de fundar novos sentidos no bojo da experiência, vida e existência das pessoas, de modo que possamos nos recompor por inteiro. Afinal, se somos como E. Morin diz homo demens-ludens-symbolicus-sapiens-faber, hoje nos encontramos cindidos e fragmentados, dilacerados e mutilados. Mais ainda, para H. Marcuse, reprimidos e “contidos”, administrados e controlados. Diríamos mais, violados e disciplinados, “inteirinhos em frangalhos”, pela razão instrumental hegemônica que caracteriza as modernas e industriais sociedades do trabalho, de massas e de mídia.

                Na contramão da visão da educação formadora de mão de obra para a máquina de guerra que são nossas sociedades, concebemos a educação como Arte, se a entendermos como ação de revolta e de subversão criativa.

             Tal compreensão nega a ordem estabelecida, o estático, a manutenção da exploração e da alienação, apontando um fôlego para a utopia, para o outro lugar, para o que não existe, para o outro mundo. Mundo outro no qual a criação não seja sufocada pelo cerceamento da máquina social empenhada em administrar nossas vidas, em nos impor sentidos que não criamos e tampouco escolhemos. 

           E o primeiro passo para realização dessa proposta é a possibilidade do próprio educador se perceber e se ver no seu entorno de maneira que ele mesmo passe a buscar uma integralidade equilibrada entre seu agir, pensar e sentir, permitindo-lhe transportar essa harmonia para suas atividades educativas – escolares ou não -, tendo claro para si que é com a alteridade humana(!) que ele trabalha e que isso exige respeito, ética, liberdade e criação. 

...é Doar sentido à existência humana

          Atribuir, dar, doar sentido à existência é esta a tarefa maior de uma educação que se quer propriamente humana. E educar é diferente de treinar, domesticar: “não se educa cão”, educa-se “os manos”, humanos, irmãos de nossa condição existencial, de resistência, pertencimento e inclusão.

Educação humana(!) para a consciência estética

          Nesta perspectiva, espacialidade e temporalidade, corporeidade e linguagem, entre outras categorias essenciais que condicionam a existência humana e o próprio mundo, precisam ser experienciadas e vivenciadas de outro modo, muito mais perceptivo, sensível e estético, no qual razão e sensibilidade se façam outro, em tensão vital (equilíbrio tensional) e “con-fusão”.

canetamusica1  “Uma parte de mim é permanente. Outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem. Outra parte linguagem. Traduzir     uma parte na outra parte. Que é uma questão de vida e morte. Será arte?”

                         (Traduzir-se – Ferreira Gullar)

... é um Convite:

Queremos compartilhar um sonho. O que nos motiva? Uma utopia.

Notas musicais   “Gente olha pro céu. Gente quer saber o um. Gente é o lugar. De se perguntar o um. Das estrelas se perguntarem se tantas são. Cada, estrela se espanta à própria explosão. (...) Gente viva, brilhando estrelas. Na noite. Gente quer comer. Gente que ser feliz. Gente quer respirar ar pelo nariz.(...).Gente espelho               da vida.Doce mistério.”    (Gente - Caetano Veloso).

[Adaptação do texto de autoria do GRUPO DE ESTUDOS “NOVAS TRAQUINAGENS DE EROS” - GENTE- 2008-2009]

 

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